quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Entrevista: Berenice Tourinho
Candidata à reitoria da Unir aponta o caminho para a reconstrução da UNIR
 
A indicação da professora Berenice Tourinho pelo Fórum Permanente em Defesa da UNIR, para concorrer à vaga de reitora da instituição, vem sendo recebida com simpatia por toda comunidade acadêmica. O Fórum foi criado durante o movimento grevista que culminou com a afastamento do reitor Januário Amaral. Berenice atua há mais de 20 anos na universidade e teve papel decisivo na comissão que levou ao MEC os pontos críticos pelos quais Unir tem passado. Como professora da instituição sempre se dedicou e deu preferência à sala de aula e aos projetos de extensão. Nesta entrevista, Berenice explica porque quer ser a reitora da Universidade Federal de Rondônia. As eleições na Unir estão marcadas para o dia 1° de Março.
 
 
1.     A senhora é professora na Unir há 23 anos, por que  só agora aceitou concorrer à vaga de reitora?
 
Em um primeiro momento, a indignação com o desgoverno, e a destruição institucional pelas últimas gestões desastrosas da Unir, que culminaram por inviabilizar as condições necessárias, mínimas que fossem, para o exercício da docência, a produção de novos conhecimentos através da pesquisa e da extensão.
 
Em um segundo momento, posso dizer que esta indignação se transformou, aos poucos, em esperança, uma vez que, mesmo no momento da greve, meu nome e de outros colegas começaram a ser apontados como possibilidade de liderar um processo de reconstrução institucional e acadêmica que se originasse de uma construção coletiva de professores, alunos e técnicos administrativos.
 
Assim, me senti fortalecida a disponibilizar o meu nome a consulta à comunidade acadêmica (professores, alunos e técnicos), inclusive a condição por mim estabelecida foi a de que o meu nome fosse referendado pelo Fórum Permanente em Defesa da Unir, espaço de debate criado a partir do extinto comando de greve.
 
O espaço do Fórum me inspirou o apoio necessário, para desenhar as propostas de governabilidade para a Unir a partir de um coletivo. E, assim, sob estas condições, aceitei.
 
2.     Qual o maior desafio nesse processo?
 
É o de restaurar a governabilidade da Unir sob o critério da boa gestão pública, transparente,  acorde com a legislação que orienta a administração da educação como um bem público e socialmente referenciado, prestando contas à comunidade  interna e externa à Unir e, ao mesmo tempo, administrar as demandas da política superior do MEC para a instituição ainda em soerguimento.
 
3.     A senhora participou do gabinete de gerenciamento de crise junto ao MEC, durante a greve. Como está a imagens da instituição perante o governo federal? 
 
Sim, participei como representante docente indicada por voto no movimento de greve. Em princípio, foi assim chamado: Gabinete de Crise. No entanto, se constituiu nominalmente como Comissão de Apoio à Unir, no dia 24 de outubro. Constituída por representação docente, discente e de pró-reitores da Unir e representantes do MEC, trabalhou com base nos 20 pontos problemáticos (Termo de Ajuste de Conduta) apresentados à Secretaria de Ensino Superior, SESu, pelos professores e alunos em greve. Durante os trabalhos, tivemos que expor todos os problemas instalados, buscando uma pauta de solução emergencial e, neste processo de "cortar na própria carne", não se podia mais esconder todas as mazelas que enfrentávamos, e acredito que isso não deixou uma imagem institucional positiva nos representantes do MEC que integravam a Comissão.
 
4.     Os técnicos reclamam da falta de apoio por parte da reitoria. Qual sua proposta para valorizar o quadro?
 
Entre os déficits de servidores, o mais grave da Unir é o de servidores técnico-administrativos. Isso com certeza implica uma sobrecarga de trabalho e um aumento de responsabilidades, muitas vezes tendo estes técnicos que desempenhar funções para as quais não se sentem habilitados. A minha proposta se concentra, portanto, em três pontos: 1. Retomar uma das ações da Comissão de Apoio à Unir, referentes a novas contratações, além das que já estão em andamento; 2. Criar condições para que estes servidores possam se aperfeiçoar, fazer novos cursos, novas capacitações; e 3. Ouvir este técnico e NÃO usá-lo como uma peça da engrenagem menos importante. Acredito que a experiência destes servidores é extremamente preciosa e essencial para o novo gestor. Eles "conhecem o caminho das pedras", porque conhecem a rotina do trabalho e onde ela pode ser criativa e inovada. Sai gestor, entra gestor, e lá eles estão, muitas vezes, observando com olhar crítico, mas ainda silenciosos, as distintas gestões que pela Unir passaram e continuam passando.  
 
5.     O seu slogan diz "Unir refaz seu caminho". O que significa isso no contexto da Universidade hoje? 
 
Significa os três principais desafios que se interpõem hoje:
 
Unir a UNIR, entre tantas definições, adotamos aquela de "...pôr em contato o que está separado com aquilo que o complementa". A bem sucedida greve, que determinou novos caminhos para a nossa Universidade, colocou em contato pessoas que estavam separadas e o talento de cada um complementou o do outro.
Unir a UNIR significa, na nossa acepção, estabelecer concordâncias, consensos mínimos, complemento de contrários que permitam o avanço institucional.
 
Reconstruir a UNIR, sem exagero, pode-se afirmar que a UNIR, enquanto Instituição, foi destruída nas últimas administrações, exigindo um esforço de desconstrução e reconstrução acadêmico-administrativa. Portanto, há que se dar tratamento aos problemas relativos à reconstrução das instalações físicas, das salas de aula, dos laboratórios, dos equipamentos sucateados, das bibliotecas desatualizadas, que podem ser tecnicamente equacionados, na dependência de alocação de recursos financeiros. Além disso, é necessário investir na resolução dos problemas mais complexos, que dizem respeito à reconstrução do funcionamento institucional e da recuperação de sua credibilidade junto à sociedade.
 
Consolidar a UNIR, a união recente de alunos, professores e técnicos significou a mudança de direção da UNIR. Resgatou a auto-estima da participação política, a certeza que, unidos e com propósitos claros, podemos retomar os rumos da instituição e consolidá-la como referência de ensino superior. Assim, entendo que caberá à nova administração resgatar o respeito interno e externo que nossa instituição merece no contexto amazônico e nacional.
 
6.     Como traduzir esses três eixos em termos práticos? 
 
Unir a UNIR
 
·      Dar continuidade ao Plano de Ação pautado pela Comissão de Apoio à UNIR, do Ministério da Educação, conquistado pelo movimento de greve, já em andamento;
·      Restituir aos Conselhos de Departamentos, de Núcleos, de campi e Superiores o poder de deliberação e respeito às decisões colegiadas;
·      Mobilizar toda a comunidade acadêmica, com participação da comunidade envolvente, para implementar imediatamente os processos de: avaliação institucional, Estatuinte, para elaborar o novo Estatuto e o Regimento Geral em concordância com a atual realidade da UNIR, revisão e implementação do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI).
 
Reconstruir a UNIR
 
·      Regularizar a Universidade, os cursos de graduação presenciais e à distância e os cursos do PARFOR (Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica);
·      Persistir nas negociações junto ao MEC para ampliação do quadro técnico e docente, visando a superar o déficit atual;
·      Definir uma política institucional para oferta dos cursos de graduação e pós-graduação;
·      Criar condições adequadas de funcionamento aos cursos de graduação e pós-graduação (mestrados e doutorados), ampliando sua oferta para garantir o status de Universidade e cumprir sua missão na região amazônica;
·      Definir e implementar políticas de oferta de cursos para grupos específicos como povos indígenas, populações do campo, quilombolas, ribeirinhos, imigrantes, entre outros;
·      Garantir condições plenas de acessibilidade nos diferentes campi da UNIR;
·      Implantar rotinas para procedimentos administrativos e acadêmicos;
·      Estabelecer uma política de comunicação e modernização dos sistemas de tecnologia na UNIR;
·      Incrementar a política de assistência estudantil;
·      Criar um programa interno específico de fomento à pesquisa e à pós-graduação;
·      Estabelecer bases legais de interação com o mercado do trabalho, oficializando a prática de estágios curriculares e extracurriculares;
·      Concluir o hospital universitário e estabelecer condições para seu funcionamento.
 
Reconstruir a UNIR
 
RIOMAR. Os últimos gestores a transformaram de fundação de apoio às atividades da UNIR em organização criminosa (conforme processo no Ministério Público). O seu patrimônio, constituído de prédios em áreas nobres da cidade, é insuficiente para pagar as dívidas trabalhistas. Neste caso, parece haver apenas uma opção:
 
·      Liquidar a RIOMAR em conformidade com as normas contábeis e administrativas.
 
O Laudo do Corpo de Bombeiros sobre as condições de trabalho e estudo no campus de Porto Velho, e problemas de segurança semelhantes em outros campi, exigirá, igualmente, uma atenção diferenciada por parte da nova administração. É inadmissível que pessoas estudem e trabalhem em condições de risco, esperando que um acidente fatal ganhe as manchetes dos jornais. A solução pode estar em:
 
·      Buscar ativamente parcerias com os municípios, com o estado, com as empresas e com a sociedade civil. 
         
Entre as providências mais simples para consolidar a credibilidade da UNIR está:
 
·      Constituir uma equipe dirigente que some à competência técnica, a postura ética e o conhecimento na sua área de atuação.
·      A UNIR é uma universidade multi-campi e esta característica exigirá da equipe diretiva um esforço redobrado. Há problemas que se resolvem nos gabinetes, mas é indispensável a presença constante nos diferentes campi: acompanhar o cotidiano institucional, para conhecer a realidade local e encontrar diferentes soluções.
 
7.     Como a senhora pretende aproximar a UNIR da comunidade?
 
Os fatores dessa aproximação, na verdade, já estão dados, mas não devidamente aproveitados. Quero dizer, há demandas da comunidade que não estão recebendo a devida atenção da Unir, enquanto instituição que deve promover a educação superior; por outro lado, há trabalhos, pesquisas e programas de ensino que a Unir desenvolve, mas que, institucionalmente, não recebem, nem internamente e nem externamente, a devida importância e visibilidade. Como a comunidade pode saber o que desenvolvemos como instituição de ensino superior, se não temos um programa ou uma política de exposição do nosso trabalho?
 
Vejo que é necessário transpor os muros da nossa Unir, e a iniciativa deve ser nossa. Insisto não só na composição efetiva da representatividade da comunidade nos conselhos gestores da Unir, e, para além disso, a criação de um sistema de comunicação institucional eficiente que divulgue, segundo critérios de popularização da ciência, toda a nossa produção acadêmica a qual reputo de maior qualidade.
 
Outro canal possível de interação entre a Unir e a comunidade se criou com o movimento de greve: o Fórum Permanente em Defesa da Unir. Penso que este fórum deve se consolidar não só na capital, mas em todos os campi do interior, como um espaço de debate amplo que comporte diferentes e múltiplas vozes não só da comunidade acadêmica, em seus distintos segmentos, mas também um espaço de interação com a comunidade e suas diversas vozes. Isso cabe, perfeitamente, no conceito de Universidade pública, de qualidade e socialmente referenciada.
 
8.     Uma das defesas do Fórum é a democratização dos processos de pré-escolha dos gestores. Qual é o modelo ideal? 
 
O modelo ideal é aquele construído na luta democrática, o sufrágio universal, que foi exercitado no Fórum. Por outro lado, a luta também se dá na defesa da representação e escolha paritária de docentes, estudantes e técnico-administrativos nos colegiados superiores e nos colegiados das unidades, eleita pelas respectivas categorias.
 
9.     O que a senhora considera decisivo na gestão da UNIR daqui pra frente? 
 
Transparência nos processos de tomada de decisão e na gestão de processos administrativos e acadêmicos não só para a comunidade acadêmica, como também para a sociedade para a qual devemos responsabilidade social. Isso administrativamente bem feito pode promover a superação da crise de credibilidade institucional na qual a UNIR mergulhou, como também promover uma interlocução de qualidade entre a equipe gestora, a comunidade acadêmica e a sociedade em geral. Só com uma gestão transparente e socialmente referenciada, teremos base para retomar o desenvolvimento institucional.
 
 
 
Fonte: Assessoria

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